Santistas e brasileiros de uma maneira geral, eu mesmo, confesso, torciam para que o time de Neymar brilhasse no Japão. Era o jogo mais esperado de todos os tempos. Não se falava em outra coisa. Era o momento esperado para se saber quem era o melhor: Messi ou Neymar.
Para frustração e tristeza da nação santista, não foi a derrota em si do Santos, mas o passeio de bola aplicado pelo Barcelona e gols espetaculares assinalados por Messi e Xavi.
Deixando de lado a derrota humilhante do time santista, o jogo em si valeu para recordação de muitas coisas que aconteceram na minha vida, principalmente em termos futebolísticos.
Recordo-me que há uns trinta anos atrás, quando jogava no time do bairro do Jacutinga-Lopes, que era escalado com os seguintes jogadores: Bode no gol, Ditão de zagueiro central, Zé Braunílio de lateral direito, Alcindo de volante, Célio quarto zagueiro, Choca de lateral esquerda, Arcidão de ponta direita, Coco de meia esquerda, Sacy de centro avante, Hélio de ponta esquerda e o Galo, técnico e jogador como líbero.
O nosso time vinha ganhando de todo o mundo. Na última partida o time do Jacutinga-Lopes havia arrasado com o time do Bocó, ganhando de 6 a 2, na casa, com uma ajudinha do apito amigo, diga-se de passagem. E foi nesse clima de euforia, onde se comentava que o Coco era o melhor jogador do Município, o Bode despontava-se com um goleiro promissor, o Sacy vinha se revelando a cada partida, com suas arrancadas decisivas. O Galo, jogador e técnico, estava acertando o gol com sua canhota, embora até hoje não me convenci que ele chutasse com a dita perna, aliás nem com a outra. Mas de vez em quando marcava bonitos gols de fora da área. O Choca era disciplinado. Uma vez o técnico pediu-lhe que ficasse plantado atrás e ele sem questionar passou a procurar um enxadão para cavocar e cavocava mesmo a cada chute que dava, com sua chuteira de sola grossa guarnecida com travas de pregos 20 por 20, que a tradicional sapataria do Germano fazia sob encomenda.
Na época, adotava-se o conceito segundo o qual o zagueiro tinha que parar o atacante mais ousado e habilidoso, com a sola da chuteira e o Choca parava. E nem dava falta.
O Arcidão era respeitado pelo oportunismo de suas jogadas. Marcava gol de qualquer jeito. De barriga, de costas, de bunda e ás vezes até de cabeça. Alguns chegavam até comentar que o Arcidão era mais perigoso de costas, por causa do fator surpresa. O Hélio era um jogador valente que dividia jogadas até com seus companheiros e partia a cabeça ou na nuca do adversário ou no pau do gol, tentando cabecear a bola.
Naquele tempo, quem não se recorda do temido time da Associação Atlética Guareiense, que tinha como craques Tal do Peva, João Metiga, Natálio, Arlindo, Robertinho e outros.
O nosso time estava jogando um bom futebol, ganhando torneios nos bairros da zona rural, até que veio um convite do Zé Araldo para um jogo com a Associação Atlética Guareiense. O técnico Galo até aceitaria jogar, desde que a AAG não humilhasse o time do Jacutinga que era ainda imaturo e com jogadores inexperientes, desacostumados a jogar na cidade. Podia até perder de goleada, mas sem gozação, advertiu o técnico Galo.
O grande dia chegou. De um lado, craques em revelação, como Bode, Coco, Sacy, Arcidão e de outros já os consagrados como Tal do Peva, Arlindo, Natálio e outros.
Antes de dar início à partida, houve aquela cerimônia protocolar, com a entonação dos hinos nacional e de Guareí. Todos enfileirados e tensos, cantaram os hinos, com exceção do Bode, do Arcidão e do Choca que tinham ido comprar camisas. Felizmente chegaram a tempo, pois o Galo já estudava uma alternativa: Eu entraria no lugar do Arcidão, o Jipe no lugar do Choca e o Pinhé no lugar do Bode. Eu já estava até me aquecendo, esperançoso de ter uma oportunidade de mostrar o meu talento para uma platéia que lotava o estádio.
Iniciada a partida, o nosso time simplesmente não achou a bola. O Tal lançava o Mitiga que investia pela direita e cruzava na área e o Natálio marcava de cabeça, de peito, de calcanhar. Em pouco tempo, já perdíamos de uns 6 a zero e fora o baile.
Apesar da acachapante derrota, o nosso time resistia bravamente em campo, correndo atrás dos adversários, sem conseguir retomar a bola. O placar já acusava 8 a 0, quando resolveram colocar o “Bastião” no time da AAG. O “Bastião” era guarda da Caixa Econômica e parece que entrou no campo até de farda e de coturno.
O técnico e jogador Galo vendo que a entrada de “Bastião” era uma afronta, porque de jogador não tinha nada e o mais grave ainda, os jogadores da AAG faziam de tudo para que o “Bastião” marcasse o nono gol. O Natálio pegou uma bola driblou os zagueiros e também o goleiro e já embaixo das traves, chamou o “Bastião” e lhe passou a bola, que entrou com bola em tudo, marcando o nono gol da Associação.
Aí o Galo enfurecido, imediatamente tirou o time de campo. O Zé Araldo tentou ainda, convencê-lo a continuar, mas o técnico foi incisivo: não faço conta de perder de goleada, mas com o gol do “Bastião”, isso é demais.
No caso do Santos, não foi diferente. Só faltou o gol do “Bastião”.
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