quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

LUZES DE NATAL

Esta é uma crônica sobre o clima de Natal, escrita por mim, no ano de 2008

É chegado o momento do ano em que os corações batem intensamente e os olhares brilham diante das vitrines enfeitadas de multicoloridas lâmpadas contrabandeadas da China, via Paraguai. A criança puxa a mãe pelas mãos, implorando:

- Compra mãe, uma árvore de natal, com muitas luzes pra gente montar lá na sala de casa.

A mãe, com os olhos rasos d’água tira a criança.

- Vem filho, o dinheiro só dá pra comprar um jogo de meia dúzia de lâmpadas. No ano que vem a gente enfeita a casa que nem a do vizinho, repleta de pisca-pisca.

Isso é o espírito de Natal, que faz relembrar a minha própria infância. Naquele tempo, não havia tantas luzes e os brinquedos, no máximo, fabricados no fundo do quintal a golpes de facão. O acervo de brinquedo se resumia em um carrinho de carretel ou num aro de barril tocado por uma haste de arame. O almoço era aguardado com muita ansiedade, regrado a vinho de garrafão e um belo frango caipira ao molho com macarronada.

Era um dia especial para a família. A mãe chegava até abrir exceção às duras regras da casa, permitindo comer gulosamente macarronada e tomar o porre de vinho de garrafão conquistado na rifa com nomes de mulheres.

Certa vez apostei numa rifa, com nomes de mulheres. Como era o último nome de mulher, não tive escolha. O único dinheiro que havia no bolso foi apostado na sorte. E a sorte estava ao meu lado, naquela noite, véspera de Natal. Fui agraciado com um belo garrafão de vinho tinto suave, guarnecido por vime e uma alça para transporte.

Não me continha de tanta felicidade. Os amigos parabenizavam-me pela esplendida vitória. Era abraçado e invejado por todos. De repente, me sentia a pessoa mais feliz naquela noite. Exibia com orgulho aquele laurel. Os amigos prestavam solidariedade, ajudando a transportar o garrafão de vinho, que passava de mão em mão, no percurso de nove quilômetros, vencidos a pé até a casa.

Fazíamos planos para o dia seguinte. Estabelecíamos regras para o usufruto daquela conquista natalina. A minha alegria era contagiante. O cansaço tão normal durante a caminhada em direção à residência era absorvido pelo clima de alegria e felicidade. O Natal era muito bonito, mágico e conferia a cada um de nós, sentimentos altruísticos de generosidade e perdão. Velhas rixas eram esquecidas, feridas cicatrizadas, amizades entrelaçadas e uma sensação de paz pairava no ar.

Para mim, Natal resumia naquela reunião fraternal com a família. Embora o pai já falecido, a mãe era o centro em torno da qual todos se reuniam. Os vizinhos se compraziam, com brilhos nos olhos e alegria no coração.

No momento presente, a festa natalina já não se reveste dessa magia, desse gesto generoso, humano e solidário entre as pessoas. Tem mais a ver com consumismo, comércio e lucratividade. Não sinto a mesma simplicidade de antigamente. As crianças pedem videogames e os adultos, carrões e outros presentes que frustram seus pais.

Enquanto em muitos lares esbanjam comida e bebida, crianças de famílias miseráveis passam fome, morando em casebres, ou debaixo de pontes, ou vivem em solidão, desamparadas pelo infortúnio da vida, com seus pais recolhidos em uma prisão. A televisão mostra os clipes da vida real, recheada de violências. Um contraste insultante que desafia o espírito cristão.

É impossível compatibilizar o sentido subjacente que envolve o Natal do Menino Jesus, dentro de um mundo cada vez mais voltado para os gozos materiais e imediatos.

Talvez neste momento, o mais importante não seja arrumar externamente as casas, mas a ocasião propícia para iluminarmos os corações.

Que as pessoas não sejam tão ricas que possam comprar as outras ou que não sejam tão pobres, que precisem se vender - como pregava Jean Jacques Russeou.

Feliz Natal e Próspero Ano Novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário